sexta-feira, 15 de março de 2013

Entrevista a Luis Miguel Rocha, autor de "A Filha do Papa"






Achei esta entrevista interessante e decidi partilhar com quem me acompanha. Dá para ficar-mos a conhecer um pouco mais deste mais recente livro de Luis Miguel Rocha.

 

 

"Luís Miguel Rocha está de regresso, concretamente com «A Filha do Papa», que aborda a relação de mais de 40 anos entre o Papa Pio XII e a freira Pasqualina, que o autor considera a mulher mais importante da Igreja Católica após a Virgem Maria. Mulher que não é tolerada no Vaticano, que serve apenas para servir, «de preferência sem cérebro».

O nome de Luís Miguel Rocha já carrega uma legião de admiradores na literatura nacional e internacional, que, todos os anos, esperam com ansiedade um novo livro do autor português, um dos poucos que conhece o interior do Vaticano, um Estado que, ao contrário do que muitos acreditam, está apartado da Igreja Católica. «A Igreja Católica alberga a fé, o Vaticano o estado e o poder político. Pode não parecer mas os dois poderes, o religioso e o político, estão separados, mesmo que coexistam no mesmo local», defende.
Como é habitual nos seus livros, «A Filha do Papa» é um thriller surpreendente, ao nível do que se faz de melhor no género, com Luís Miguel Rocha, o primeiro autor português a figurar no top do New York Times, a complicar a trama página após página, com o desfecho final a desatar finalmente todos os nós dados ao longo da história. O autor aproveita ainda para desfazer alguns dos mitos urbanos sobre Pio XII, na sua opinião «o melhor Papa do século XX». Um Papa que ainda não foi beatificado devido a… Pasqualina.
Sim, as mulheres continuam a ser uma pedra no sapato do Estado do Vaticano…
«A Filha do Papa» será apresentado oficialmente no dia 17 de Março, às 17h00, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, no âmbito do ciclo literário Porto de Encontro Porto de Encontro. O jornalista Sérgio Almeida vai conduzir a sessão, que terá a participação especial do animador de rádio Diogo Beja. No dia 23 será a vez de Lisboa acolher Luís Miguel Rocha. Às 16h00, na Bertrand Chiado, em Lisboa, com a jornalista Ana Lourenço a conduzir uma conversa com o autor.

Porque escrever sobre Pio XII?


Acima de tudo, interessava-me escrever sobre a relação entre Pio XII e Pasqualina, que viveram juntos por mais de 40 anos, numa instituição que proclama o «Amai-vos uns aos outros» mas não deixa que os seus possam sentir amor. Foi isso que achei apaixonante.

Até que ponto a sua história acabou por o surpreender?

Parti para a investigação com as mesmas opiniões negativas da maior parte das pessoas. Pio XII era um Papa nazi, amigo de Hitler, anti-semita, etc, etc. Nada mais errado. Pio XII nunca conheceu Hitler. Nunca o viu pessoalmente. Foi uma espécie de Óscar Schindler em grande escala. Estima-se que com as suas acções salvaram-se cerca de 800 mil judeus. Para além disso, Hitler mandou matá-lo por duas vezes. A primeira em 1940, na «Operação Pontífice», e a segunda em 1943, na «Operação Rabat». Por que razão haveria Hitler de mandar matar o seu «amigo»? Porque Pio XII era a maior ameaça de Hitler. Depois temos os testemunhos dos embaixadores de França, Reino Unido, da própria Alemanha, entre outros, que diziam que quando estavam com ele se sentiam na presença de um homem superior, com uma voz angélica. São testemunhos separados e não combinados e, no entanto, similares. Pio XII, na minha opinião, foi o melhor Papa do século XX.

Considera que Pio XII é um Papa incompreendido ainda hoje?

Sem dúvida. As pessoas aprendem a repetir as coisas que ouvem sem confirmar. Aceitam e repetem. Como a história do Einstein ter chumbado a matemático quando andava na escola. Repete-se tantas vezes que se torna verdade. Einstein nunca chumbou a matemática. Einstein nunca chumbou a nenhuma disciplina na vida.

Escreve que Pasqualina foi a única mulher a presenciar um conclave. A verdade é que ela continua a ser um mistério. As suas memórias estiveram na gaveta durante 25 anos, segundo alguns a sua publicação foi impedida por João Paulo II. Estamos perante uma mulher realmente importante?

Pasqualina é uma mulher fascinante. Seguramente, a mais poderosa da história da Igreja. Isto é uma constatação que não encerra nenhuma crítica. Sou um defensor acérrimo de Pasqualina e Pio XII. Foi ela que teve a ideia do IOR, o famoso e obscuro Banco do Vaticano. A ideia era criar uma instituição dentro do Vaticano que recolhesse todos os donativos em fundos ou fundações que seriam canalizados para obras de religião (ajuda aos pobres, aos órfãos, combate a doenças, etc.). Aquilo a que assistimos hoje é uma adulteração da ideia de Pasqualina. Teria um desgosto se soubesse no que se transformou a sua ideia. Num banco de investimento onde se lava dinheiro de criminosos de todo o mundo.

Até que ponto o seu papel é ainda hoje temido pela Igreja Católica?

Pasqualina tem sido deliberadamente apagada da história. E essa, para mim, é a maior das injustiças. Contudo, o problema maior da Igreja com Pasqualina não é com nenhuma das suas brilhantes ideias. O maior problema é o facto de Pasqualina não ser homem. O Vaticano é um mundo misógino que não tolera as mulheres, a não ser que sejam meras serviçais, de preferência sem cérebro.

Podemos considerar madre Pasqualina como a segunda mulher mais importante da Igreja Católica após a Virgem Maria?

Podemos e devemos. Bem visto.

Como é habitual, estamos perante um thriller, mas também uma história de amor, aliás, duas, entre Pio XII e madre Pasqulina e Rafael e Sarah. Dois romances teoricamente proibidos…

Os leitores(as) revoltam-se comigo pelo facto de a relação de Sarah e Rafael não sair do sítio. A culpa não é minha. As personagens têm vida própria e decidem o que querem ou não fazer. Eu limito-me a relatar. Mas as duas relações são, de facto, muito similares.

Defende que a filha dos dois é que impede a beatificação de Pio XII. Ou seja, a razão antes do Amor sustenta toda a Igreja Católica?

Não. Penso que o que impede a beatificação de Pio XII é a existência de Pasqualina. A convivência longa, a cumplicidade, as quezílias que ela gerou, os ciúmes que a relação do Papa com ela causou em alguns cardeais, o ódio que lhe ganharam por ela ser a preferida… Mais uma vez, o factor mulher. Tudo isso impede que ele seja beatificado. O anti-semitismo é que é um argumento que se pode deitar fora.

O livro é um tributo aos homens e mulheres que abandonaram as suas vidas pela Igreja Católica?

Também. Penso que essas pessoas devem ser homenageadas. É um sacrifício imenso relegar os desejos, as vontades próprias, os sonhos para um plano secundário e viver em prol dos outros e de Deus, quem quer que Ele seja.

Também presta uma homenagem as pessoas que acabam por ditar a beatificação dos homens, pessoas que são praticamente ignoradas por todos, mas que podem alterar por completo uma cidade ou até mesmo um país com as suas conclusões. Foi complicado recolher informação sobre estes seres desconhecidos da Igreja Católica?

Tive a sorte de conseguir ajuda para esta parte da história. A Congregação para a Causa dos Santos é interessantíssima e quem nela trabalha faz um trabalho «sui generis», criar santos de simples seres humanos, mas fá-lo de uma forma séria e muito coerente. Analisam a vida toda do candidato e vão aonde for necessário para obterem a informação. Ali não se escreve uma linha que não possa ser comprovada. Gostava de crer como eles crêem.

O desfecho da história esteve sempre no seu pensamento no acto da escrita ou, pelo contrário, foi ganhando corpo enquanto escrevia, já que poderia terminar perfeitamente o livro umas páginas antes, que estaria perfeitamente fechado. Desejou ressaltar ainda mais com a conclusão final a importância da sua personagem?

O desfecho só aparece quando estou a terminar o livro. O meu processo de escrita é muito complexo. Apesar de os meus thrillers serem históricos, são as personagens ficcionais que contam essa história. Nunca sei como a vão contar. Por exemplo, não consigo escrever o capítulo 5 se não tiver escrito os quatro anteriores. E não sei como será o capítulo a seguir. Não há guião.

Acredita que este é o tema mais polémico abordado por si até ao momento?

Os temas por si só não são polémicos. Quem faz a polémica são as pessoas. No caso de «O Último Papa» falamos de um Papa que foi assassinado; no «Bala Santa» de outro que foi alvejado; no «A Mentira Sagrada» do Jesus histórico; neste «A Filha do Papa» na relação de um Papa e uma freira. Não há nada de polémico per si. A polémica é criada por quem lê.

Acredita que os seus livros afastam os leitores da Igreja Católica, já que mostra uma instituição que nem sempre prediz os seus ensinamentos?

Não. Quem tem fé não se abala com os meus livros. Quem tem fé sabe que uma coisa é o Vaticano e outra a Igreja Católica. São coisas diferentes. A Igreja Católica alberga a fé, o Vaticano o estado e o poder político. Pode não parecer mas os dois poderes, o religioso e o político, estão separados, mesmo que coexistam no mesmo local.

A Igreja Católica é o tema principal dos seus livros. Porque esse fascínio?

No Vaticano tudo aquilo que não é sagrado, é secreto. Como não ficar fascinado com esse mistério, esses muros altos, essas portas fechadas?

Poderemos no futuro ter outro tema como base das suas histórias?

Sem dúvida. Não escreverei sempre sobre o Vaticano. Quero escrever thrillers que não sejam sobre o Vaticano e também experimentar outros géneros literários.

A campanha da Porto Editora tem como base os elogios ao livro feitos por Rentes de Carvalho e Valter Hugo Mãe, como se os escritores do «sistema», com nome confirmado na crítica nacional, dessem o aval ao seu livro. Como encarou esta campanha?

Não é uma campanha da Porto Editora. Fui eu que pedi directamente aos autores que lessem o livro e dessem uma opinião se achassem que o livro merecia. É um hábito que aprendi com o mercado anglo-saxónico e que me parece ter razão de ser. Podiam não ter dado. Somos livres de escrever críticas ou não.

Como analisa a crítica nacional, que normalmente ignora ou despreza este tipo de livros, apesar de estar sempre no top de vendas? Compreende esta posição?

Não analiso. Não conheço esse mundo e não me sinto qualificado para falar sobre ele.

Considera-se um escritor ignorado/incompreendido pela crítica no seu próprio país?

Não. Não percebo nada disso. Não conheço nenhum crítico. Estou certo que farão o seu trabalho com os critérios que julgam ser os mais adequados."


Retirado de: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=621396

Sem comentários:

Enviar um comentário